Manejo comunitário da andiroba é a aposta de extrativistas na Floresta Nacional do Tapajós no Pará. Coletas realizadas no período de março a abril, marcam a conclusão da safra de 2022. Atividade gera renda com a floresta em pé para extrativistas que recebem assessoria técnica do Programa Floresta Ativa do Projeto Saúde e Alegria
Adquirir renda com a floresta em pé, tem sido um lema para os trinta e dois coletores das comunidades Jaguarari, Pedreira, Nazaré e Aldeia Takuara da Floresta Nacional do Tapajós. Em três semanas de coleta de sementes de andiroba, realizadas entre os meses de março e abril de 2022, foram coletados 14975,73 kg de sementes molhadas.
“Foi a primeira vez que eu fiz a coleta e gostei muito desse trabalho” – contou Rodrigo Farias da comunidade Nazaré, que aos poucos vai incorporando as ações do manejo como alternativa econômica. “Pra nós é o emprego que a gente tem. Essa produção é muito importante pra gente” – ressaltou o manejador.
Ao realizar as coletas, os extrativistas são divididos em grupos para buscar os frutos caídos no chão. “Os coletores são sempre orientados a não coletar todos os frutos, pelo menos 30% devem ficar na floresta para que germinem e novas árvores possam crescer, não podemos interferir na dinâmica de resiliência da floresta” – explica a engenheira florestal do PSA Maria Soliane Sousa Costa. Os frutos são abertos e as sementes boas são separadas ainda em campo, ensacadas e carregadas até a margem da estrada, onde um carro embarca e as transporta até os secadores, construídos na base do KM 83 pelos próprios coletores, com auxílio de técnicos do Projeto Saúde e Alegria.
O manejo da andiroba reúne um trabalho minucioso que inicia no planejamento. Em 2020 foram feitas avaliações para apontar caminhos para infraestruturas aptas ao beneficiamento, secagem e armazenamento das sementes. Em 2021 foi elaborado um projeto de coleta de sementes, cujo objetivo era realizar um inventário florestal que permitisse conhecer a estrutura da floresta, abundância, distribuição e diversidade das espécies existentes no território da FLONA para subsidiar as coletas. Nos meses de novembro e outubro de 2021, o inventário florestal foi executado com participação direta de vinte e dois moradores de seis comunidades e aldeias do território.
Em seguida houve o monitoramento para a coleta, realizado no período de janeiro a abril. A fase envolveu ainda reuniões nas comunidades para discutir perspectivas da safra. “Houve uma mudança estratégica nos secadores que foram instalados mais próximos para o escoamento da produção. Assim foram instalados na base do km 83, na BR 163, na Terra Indígena Munduruku”, explicou o engenheiro florestal do PSA, Steve Mcqueen.
Os oito secadores construídos com medidas de 16 m x 4 m e capacidade de 2 toneladas de sementes molhadas, possibilitaram maior qualidade no processo de secagem, que envolve aeração, seleção de sementes inviáveis com presença de larvas, fungos e início de germinação. O tempo de permanência nos secadores foi de 30 dias e ao final, o peso seco das amêndoas foi de 6773,65 kg, com redução de aproximadamente 55% do total.
Após a pesagem, manejadores realizaram a etiquetagem para rastreabilidade do produto e embarque em container com destino à fábrica da Natura em Benevides via terrestre. A comercialização com a empresa, resultou no valor de R$30.638,11 reais, deste total 14975,73 foi repassado para os coletores, o restante custeou as despesas da safra. “Pra gente é muito importante e fundamental estar aqui no Tapajós com os coletores de andiroba que gera uma rede, uma cadeia de produtos, consultoras, repartição de benefícios, renda pras comunidades e floresta em pé”, ressaltou a Gerente de Sustentabilidade na Natura, Priscila Mata.
Em 2021 o plano base de coleta de sementes foi aprovado pelo ICMBio e foi executado em uma área de cerca de 380,00 hectares no entorno do Km 67 e 72 da BR-163 na Floresta Nacional do Tapajós. A atividade é uma das apostas do Programa Floresta Ativa que se preocupa com a geração de renda para populações que cuidam do território, ressalta a engenheira florestal Soliane: “O manejo florestal não madeireiro, através da coleta de sementes de andiroba, contribui para conservação da Floresta em pé, bem como para a geração de renda para as comunidades tradicionais”.
O manejo da andiroba gera novas expectativas para além da comercialização do fruto. A ideia é que em breve, óleos e essências sejam comercializados. “É algo novo que a gente está com bastante expectativa de crescimento. Não só com a semente da andiroba, mas cumarú, piquiá, copaíba, castanha. Para que isso fosse pra frente, nós entramos em contato com os parceiros, elaboramos um projeto básico para que a gente pudesse garantir a entrada, permanência, desenvolvimento das áreas, como a reforma e construções de infraestruturas para os moradores trabalharem”, enfatizou Mcqueen.
A iniciativa é implementada com a parceria das entidades de base, como a Federação da Flona, Conselho Indígena Munduruku de Belterra, Cooperativa Mista da Flona e Ufopa. Seis profissionais, sendo quatro engenheiros florestais e dois técnicos de campo do Floresta Ativa prestam assistência técnica ao grupo. Neste ano, foram realizados 19 novos cadastros e 12 atualizações de coletores que realizaram a atividade.