O Canadá celebra em 2021, 80 anos das relações bilaterais com o Brasil. Para a embaixada, a sociedade civil tem papel fundamental na promoção dos direitos humanos;
A pandemia do novo coronavírus, acentuou ainda mais as vulnerabilidades sociais das populações amazônicas. Diante disso, no baixo, médio e alto Tapajós, o Projeto Saúde e Alegria direcionou as ações da campanha #ComSaudeeAlegriaSemCorona para apoiar quem foi mais diretamente impactado com as restrições da pandemia, como os indígenas.
No início de 2020 quando a Pandemia avançou saindo das áreas urbanas chegando também nas área rurais, o Projeto Saúde e Alegria aumentou sua preocupação com as populações que vivem em aldeias e comunidades, com hábitos de cultura comunitária, de convivência coletiva no dia a dia.
Nas aldeias dos índios Munduruku no Médio Tapajós, que já enfrentam muitos problemas relacionados à pressão sobre seus territórios, como a invasão de garimpos ilegais, a preocupação com a segurança alimentar só aumentou. Por isso o projeto mobilizou parceiros para assegurar um primeiro apoio, quando foram distribuídas cestas de segurança alimentar e atendido um pedido especial dos indígenas, materiais de pesca para facilitar o trabalho de jovens das aldeias que pescavam evitando a saída da maioria de suas casas para buscar alimentos. Na parceria direta com a Associação Pariri dos Povos Munduruku dos Médio Tapajós, Dsei Rio Tapajós de Itaituba, mais de 1200 indígenas foram inicialmente beneficiados.
O apoio à segurança alimentar continuou, mas outras demandas foram surgindo. Buscando ir além de um apoio emergencial, o Projeto apoiou a estruturação de laboratórios de saúde em polos remotos do Alto Tapajós incluindo equipamentos para atendimento de pacientes que necessitem de monitoramento laboratorial, sem necessidade de ir até a cidade para a realização de exames, não somente no combate à Covid-19 como também para qualificar a assistência às gestantes (sobretudo o pré-natal), aos idosos, aos hipertensos, aos diabéticos, entre outras doenças endêmicas, urgências e emergências. Os serviços de saúde do DSEI também foram apoiados com oxímetros para postos de saúde das áreas indígenas e cilindros de oxigênio para hospitais do município.
Ter água em casa para consumo, lavar as mãos e manter a higiene na família nunca foi tão importante quanto em tempos de Pandemia. Convivendo com a poluição do rio Tapajós em função dos garimpos ilegais, os Munduruku demandavam apoio para melhorar o acesso à água potável e o saneamento básico. Mas as restrições sanitárias impediam a continuidade das obras iniciadas em 2019. Foi preciso muita cautela e planejamento da equipe para a retomada das ações em 2021, que além das medidas de controle da Covid, com a realização de testes e higienização dos materiais, tiveram que enfrentar a complexa logística devido à distância das aldeias e condições de trafegabilidade das vias, para conseguir levar caminhões e balsas transportando kits de ajuda humanitária e materiais para construção das obras do Programa Cisternas que vem sendo implementado na região pelo PSA.
Assim, cento e doze famílias dos Munduruku do médio Tapajós puderam ter acesso à banheiros com fossas sanitárias em casa, sistemas de bombeamento de água, de captação e tratamento das águas das chuvas, de distribuição através de redes hidráulicas até as casas.
Mais recentemente, o PSA concluiu também as instalações de sistemas fotovoltaicos nas aldeias Munduruku do médio Tapajós/Itaituba-PA – Sawré Jaybu, Dace Watpu e Sawré Muybu. Na ação, 51 famílias foram beneficiadas com sistemas de energia solar para bombeamento de água implantados com apoio da Fundação Mott. As instalações reduziram a necessidade de óleo diesel usado em motores de bombeamento dando mais autonomia às aldeias. Com energia limpa, os moradores conquistaram também economia no custeio das operações.
Para a liderança indígena Alessandra Korap Munduruku, as ações foram fundamentais para garantir a permanência dos indígenas na aldeia sem contato com as áreas urbanas para evitar novos contágios: “A parceria veio somar, diminuindo os casos de mortes dos indígenas. As cestas básica, material de oxigênio, de pesca, vieram pra somar. Foi o caso de todos conhecerem quem realmente estava trabalhando para os indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e outros parentes. Foi isso que nos fortaleceu bastante. A União, nos fez mais fortes”.
“A parceria do Projeto Saúde e Alegria foi de fundamental importância nesse período de pandemia onde no território já tem essa questão da vulnerabilidade social, alimentar. E como é que você vai dizer para um indígena que ele não pode sair para as cidades mais próximas e comprar seu alimento? Que ele vai deixar de ter os ritos, de tomar o café em conjunto, fazer reuniões… a campanha veio somar com o Dsei Rio Tapajós na questão da nutrição, da vigilância alimentar no território. Só temos a agradecer pela parceria e parabenizar pelo prêmio” – disse a coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI, Cleidiane Carvalho.
Graças ao empenho de diferentes atores que integram a campanha, a embaixada do Canadá, que também apoiou as ações, fez questão de premiar a iniciativa, ressaltando que “Por meio desses laços de amizade, o diálogo entre nossas nações se enriqueceu, proporcionando trocas de experiências e colaborações para promoção dos direitos humanos nos dois países” e que “Em reconhecimento pelo excelente trabalho na área de assistência aos povos indígenas em resposta à crise da Covid-19, a Embaixada do Canadá no Brasil outorga o Prêmio Direitos Humanos 2021 ao Projeto Saúde e Alegria” – escreveu a embaixadora, Jennifer May.
O Canadá, que este ano celebra oito décadas das relações bilaterais com o Brasil, ressaltou que acredita firmemente que a sociedade civil tem um papel fundamental a desempenhar no avanço dos direitos humanos, multiplicando os esforços do pluralismo e inclusão. Para o coordenador do PSA, Caetano Scannavino, é importante compartilhar este prêmio com quem atuou diretamente nas ações: “A gente fica bem feliz pelo reconhecimento e divide esse prêmio com os nossos parceiros e co-executores, o Conselho Indígena Tapajós Arapiuns, o Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém, a Associação Pariri dos Povos Munduruku dos Médio Tapajós, o Dsei Rio Tapajós, Funai, assim como os apoiadores Fundo Casa, União Amazônia Viva, Embaixada do Canadá, Instituto Arapyaú, Programa Cisternas. A gente ajudou, mas não resolveu tudo dada a dificuldade que foi a pandemia. A partir dessa soma de esforços foi possível distribuir rodadas de cestas básicas, kits de higiene e proteção, equipamentos de pesca, insumos de saúde, medicamentos, cilindros de oxigênio. Foi importante no sentido de melhorar a infraestrutura através da contribuição de banheiros, sistemas de água encanada, dando melhores condições para os povos enfrentarem a pandemia” – ressalta.
“Nessa hora, a gente tem que juntar forças. Quem está sofrendo são as comunidades. Estão com falta de alcance das políticas públicas, de carência que a gente não pode mais permitir que aconteça. Todo mundo junto, a gente consegue levar o mínimo desses direitos à saúde, proteção, equipamentos” – enfatizou o médico e fundador do PSA, Eugênio Scannavino.