Instrumento de conexão entre comunidades e aldeias do interior do Estado do Amazonas, rádio online será transmitida pelo Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia, integrante da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia
Severamente castigado pela seca extrema, o município de Itacoatiara no Estado do Amazonas, Am-010, onde se encontra a Vila de Lindóia, no Km 183, banhado pelo Rio Urubu, recebeu a visita de avaliação da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia. A pesquisadora Adriane Gama, chegou ao território dos Formigueiros, após longas horas de viagem, numa logística intensificada pela grande estiagem na Amazônia. “O objetivo foi avaliativo e de acolhimento representativo da escola nesse fechamento de ciclo de atividades do projeto, buscando dialogar sobre os desafios encontrados e suas adaptadas soluções e verificar de perto os próximos passos e sustentabilidade do projeto”, contou.
No Telecentro construído com apoio da Escola de Redes, cursos foram realizados para fortalecer a atuação da juventude ligada ao grupo, com ênfase na apropriação tecnológica. “O projeto trouxe muito conhecimentos pra mim que não conhecia sobre os computadores. A gente aprendeu a mexer no computador, criar documentos, criar certificados, usar impressoras”, destacou a jovem Yasmin Cavalcante.
O espaço oportunizará além das capacitações, a disseminação de informações sobre território, cultura, educação e comunicação por meio da Web Rádio Tucandeira, idealizada pelas alunas Samira, Raquel e Daiane, estudantes indicadas pelo Grupo Formigueiro, integrados aos 21 alunos de três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará) na primeira turma da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia.
“Graças a Escola de Redes e PSA, estamos montando a nossa rádio Web que se chama Tucandeira. Tem como significado essa formiga que tem uma ferrada muito forte. Significa que onde nós formos, iremos incomodar. Quando o novo quer chegar, causa uma grande mudança”, explica Samira Diaz.
Os jovens planejam após a inauguração, ampliar a abrangência da Web Rádio instalada na Vila de Lindóia para além dos limites de Itacoatiara. “Todo esse aparato tecnológico possibilitará o funcionamento da rádio Web Tucandeira. Nós temos comunidades como Boca do Padre e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que necessitam de informações. Hoje eles estão com uma seca muito grande. Eles precisam se comunicar. Através da rádio Web, WhatsApp, site, eles vão poder se mostrar a realidade. Esse processo vai melhorar a comunicação dentro das nossas comunidades”, comentou o recém chegado ao grupo, Leandro Santos.
Durante a atividade de acompanhamento, foram entregues os informativos do Formigueiro, os quais serão produzidos mensalmente pela equipe de trabalho e certificados aos participantes do curso de capacitação do projeto comunitário das alunas formigueiras, ampliando o debate sobre as inovações da agricultura familiar bem como os impactos das mudanças climáticas na região e como o grupo Formigueiro está se adaptando às condições do clima.
Grupo Formigueiro
Sediado no interior da Amazônia, em Itacoatiara, a 183 km de Manaus, o Grupo Formigueiro representa associações de populações tradicionais: ribeirinhas e indígenas. Está inserido em uma área de difícil acesso à internet e telefonia celular, e se destaca por ter a festa da maior fogueira do Estado. A economia da região gira em torno do turismo, da pesca do tucunaré e da agricultura familiar.
As comunidades estão organizadas em 38 associações de bases que compõem o Grupo Formigueiro. A estrutura de organização política fortalece a luta em defesa dos direitos, dos territórios e do controle social da implementação das políticas públicas, especialmente as dos produtores rurais. A dificuldade de comunicação é um dos grandes desafios do grupo que almeja fortalecer a Rede de Comunicação local para defesa dos territórios e de propagar as suas influentes atividades colaborativas. Formigueiro foi uma das sete organizações integrantes da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia.
Escola de Redes Comunitárias da Amazônia
A escola é o pilar de formação e treinamento do projeto “Conectando os Desconectados”, uma iniciativa global, promovida pelas organizações APC e Rhizomatica e executada no Brasil pelo Projeto Saúde e Alegria.
A iniciativa é um legado de Paulo Lima (in memoriam), cuja atuação incansável buscou conectar comunidades desconectadas por meio do desenvolvimento de modelos, capacidades e formas de sustentabilidade para populações com foco em assistência técnica, capacitação, assessoria para advocacy e mobilização comunitária.
Em 2021, um conselho consultivo foi formado para discutir as metodologias e áreas temáticas para as ações da escola. O grupo de especialistas é composto por Beatriz Tibiriçá (Coordenadora Geral, Coletivo Digital), Georgia Nicolau (Diretora de Projetos e Parcerias Pró Comum), Jader Gama (Pesquisador – UFPA), Doriedson Almeida (Professor – UFOPA), Karina Yamamoto (Pesquisadora – USP e Jeduca), Guilherme Gitahy de Figueiredo (Profº UEA – Tefé – AM) e Carlos Afonso (Diretor Executivo – Instituto NUPEF).
A primeira turma da escola contou com a participação de 21 alunos em três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará). As comunidades que possuíam integrantes na formação foram: no Pará, os projetos Ciência Cidadã na Aldeia Solimões e Guardiöes do Bem Viver no PAE Lago Grande – ambos no município de Santarém – e a Rede Águas do Cuidar/ Casa Preta na Ilha de Caratateua, grande Belém. No estado do Amazonas, a Aldeia Marajaí, município de Alvarães – Médio Solimões; o Grupo Formigueiro de Vila de Lindóia em Itacoatiara; e a Rede Wayuri em São Gabriel da Cachoeira. No Acre, a Aldeia Puyanawa em Mâncio Lima.