Aldeias do alto Tapajós avaliam safra da castanha e planejam ações para ampliar coletas

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Encontro de avaliação da safra foi realizado na aldeia Waro Apompo região do Rio Cururu e reuniu mais de cem lideranças indígenas de trinta e uma aldeias mundurukus. Coletivo Poy foi criado em 2022 para estruturar alternativas sustentáveis e já conquistou seus primeiros resultados com quase 32 toneladas de castanhas do Pará comercializadas 

Mais de três mil e duzentas latas de castanha do Pará, equivalente a 31,6 toneladas da semente, oportunizaram renda para 126 famílias de aldeias do alto Tapajós.,  A coleta  representa o retorno aos castanhais e valorização da floresta em pé, em meio a toda degradação, conflitos e consequências da mineração ilegal nos territórios. A atividade, que envolve todos os membros das famílias, é liderada pelo Coletivo Poy, criado em 2022 pelos próprios indígenas, visando estruturar alternativas econômicas sustentáveis, que gerem renda, tragam segurança alimentar e valorizem as culturas locais.

A coleta é feita em áreas de castanhais do rio Cururu, no alto Tapajós, conservadas e defendidas bravamente pelos indígenas, contra ações de mineradoras e madeireiras. “Uma área de floresta intacta. Tem muita castanha e eles conseguiram fazer levantamento entre as aldeias e fizeram coleta de 30% do que tem na floresta”, ressaltou o coordenador de Organização Comunitária do PSA, Carlos Dombroski.

Transporte da castanha envolveu embarcações e veículos terrestres. Fotos: Carlos Dombrosi/Marlisson Borges.

Nessa região repleta de árvores centenárias, os indígenas têm conseguido desenvolver a proteção que representa resistência e o sonho dos povos tradicionais para conquistar segurança econômica a partir da coleta de frutos e sementes de espécies de valor comercial. “Nós, mundurukus, ficamos muito satisfeitos por sustentar nossos filhos e proteger a nossa natureza. Isso que nós estamos precisando no nosso território”, comentou João de Deus Munduruku, coordenador eleito do Coletivo.

Para avaliar os resultados da safra 2023 e traçar estratégias para a próxima, o Coletivo reuniu mais de cem lideranças de 31 aldeias no período de 10 a 16/07. O encontro também contou com a presença da equipe de parceiros como o Programa Floresta Ativa do Projeto Saúde e Alegria que em agosto de 2022, foi convidado para planejar as atividades produtivas potenciais e fornecer assistência técnica aos agroextrativistas. “Eles mesmos organizaram quase 70 lideranças do rio Cururu, Teles Pires e início do Tapajós, e a gente realizou as oficinas para começar a construir a organização, estruturação interna intercomunitária, definição dos coletivos, das articulações, responsabilidades e papéis, de modo a poder avançar na estruturação dessas cadeias produtivas”, contou o coordenador de Organização Comunitária do PSA, Carlos Dombroski.

Com números positivos, é importante avaliar os desafios enfrentados, como o transporte para comercializar o produto. Em 2023 foi necessário transportar as castanhas por mais de quinhentos quilômetros até Itaituba, envolvendo diferentes tipos de transportes em meio aos rios e às estradas da Amazônia. “Eles estão mostrando que através da organização deles, está sendo possível defender o território e tirar o produto de dentro da floresta que é a castanha e copaíba, e mostrar que tem outras alternativas econômicas ao para garimpo”, ressalta Dombroski.

Para o frade franciscano Frei Messias Sousa, que vive a serviço do povo Munduruku no Alto Tapajós e apoia a iniciativa, é preciso disseminar a perspectiva de uma sociedade que respeite os direitos coletivos e consome com equilíbrio e responsabilidade: “Não é vender castanha. Nós queremos demonstrar que nós dependemos da floresta. Não queremos entrar num mercado de produção. Nós queremos mostrar que é possível, que existe uma cultura, existe um saber. A floresta não é vendida, ela está aí pra gente conviver”, ressaltou.

Durante o encontro, foram discutidas ações de organização social para a produção, mapeamento, coleta, plantio e capacitações promovidas pela equipe técnica do Floresta Ativa do PSA. A semente da castanha é um produto não-madeireiro promissor para comercialização devido ao grande potencial de mercado e disponibilidade em larga escala no território Munduruku. Uma das metas do Floresta Ativa é oportunizar para populações indígenas a formação para potencializar as atividades agroextrativistas em áreas de floresta. Na primeira capacitação, foram entregues EPIs para atuação em campo.

Saímos felizes, esperançosos com a próximas safras e as famílias estão muito animadas com os resultados, se preparando para investir ainda mais em atividades sustentáveis para viabilizar recursos e garantir a proteção do patrimônio cultural/ territorial, a defesa do modo de vida tradicional e garantir o futuro das gerações que ainda virão com renda, sustentabilidade com Saúde e Alegria”, avaliou Marlisson Borges, técnico do PSA.

Esta ação faz parte do projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, por intermédio da rede WWF. A realização é feita por um consórcio de parceiros formado por Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), Comitê Chico Mendes, Fiocruz, Fiotec, Imaflora, Kanindé, Pacto das Águas, Projeto Saúde e Alegria (PSA) e WWF-Brasil.

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