Oficina realizada na Ilha de Caratateua, Distrito de Outeiro – Belém-PA, reuniu vinte e um participantes de diversos grupos integrantes da Rede Águas do Cuidar. Região foi a sexta de sete a receber equipe do programa internacional Conectando os Desconectados que no Brasil, é liderado pelo Projeto Saúde e Alegria
Localizada a 35 km do centro de Belém do Pará, a Ilha de Caratateua abriga aproximadamente 140 mil habitantes e grande parte dos moradores sobrevive da pesca e produção em pequenas áreas. Outeiro como também é conhecida, é reduto das religiões de matriz africana, e abriga diversos terreiros de Candomblé e Umbanda. Apesar da expressiva presença das religiões na Ilha, a violência contra os espaços têm crescido nos últimos anos.
As maiores dificuldades enfrentadas por coletivos, organizações representativas e associações, são a ausência de autonomia e comunicação. Don Preto, coordenador da Casa Preta fundada em 2009, conta que a iniciativa surgiu com a proposta de promover um espaço de combate ao racismo, compartilhamento de saberes, envolvendo inclusão digital, uso de tecnologias sociais e trabalhos comunitários: “A Amazônia é um lugar que precisa dessa integração a partir dessa diversidade preta e indígena” – conta.
A Casa Preta se integra a Rede Águas do Cuidar – um projeto que reúne grupos pela defesa e autonomia do território em Belém, dos quais fazem parte: Funbosque, Movimento Emaús e CEDECA, Cocadout, Espaço Verde, Casa Preta, Ong Java, Escola Alternativa, Ecotijuba, IEB Indígenas Warao da Comunidade Prosperidade, CEGAS, Sítio de Maré, Ninho do Urubu e Casa da Mestra Zula. “A rede é esse espaço que pode construir esses processos. Tem tudo haver a Casa Preta estar nessa rede. A gente deixa de ser uma voz única e passa a ouvir outras vozes pra que elas possam fazer um coro. Quando a gente integra essa rede, junto com outras redes, vai se formando uma verdadeira teia de povos e pessoas que compreendem a urgência de se conectar entre nós, a mata, o ambiente, a natureza e a Amazônia” – ressalta Don Preto.
A Rede Águas do Cuidar é uma das sete organizações integrantes da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia, que no período de 22 a 23 de abril, recebeu as ações de campo do projeto. Entre veteranos e jovens lideranças, bem como os três alunos da Escola se deslocaram de seus territórios para participar da oficina com o objetivo de refletir e dialogar sobre o território, mapear fortalezas, desafios e sonhos, assim como desenhar estratégias de comunicação comunitária da região.
“O debate foi fundamental para delinear o conteúdo que nós vamos disponibilizar neste curso para as jovens lideranças. Esse debate sobre tecnopolítica, reapropriação e autonomia tecnológica, autonomia comunicacional, foi importante para trabalhar essa consciência porque nós estamos num processo de alienação técnica. O que nós fizemos hoje aqui é a base do alicerce dessa formação” – explicou Jader Gama, professor da Fundação Escola Bosque e especialista da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia.
O processo conduzido pelas professoras da Escola de Redes Adriane Gama e Samela Bonfim, acompanhadas dos articuladores locais da Rede, Don Preto e Jader Gama, debateu temas importantes para o ativismo e defesa do território, como alternativas de software livre, redes sociais e estratégias de comunicação autônoma. “Alimentador. Foi muito rico, discutimos vários assuntos, principalmente na área de tecnologia, da comunicação comunitária. Falamos de vários sonhos e projetos que a gente almeja dentro da ilha” – contou Rafael Oliveira, da Ilha de Caratateua.
Através da metodologia usada no encontro, os participantes foram estimulados a refletirem sobre suas maiores necessidades e sonhos, comentou Lua Leão de Outeiro: “Eu fiquei muito feliz. Aqui na Ilha a gente tem muitas demandas e problemas que se a gente se juntar, conseguimos resolver. Aqui na Casa Preta a gente tem um espaço bem legal para ministrar oficinas. Eu tenho muita vontade de realizar oficinas que possam ajudar as mulheres na emancipação financeira”.
A partir dos encontros presenciais que vão acontecer até o fim de abril nas sete comunidades participantes, o conselho da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia irá compor a grade curricular da formação que acontece de julho a dezembro – fazem parte do Conselho sete especialistas e sete lideranças de cada organização envolvida. “Outras redes parceiras estiveram envolvidas nesse encontro onde a gente pôde discutir sobre vários temas como plataformas livres, uso consciente das redes sociais. A gente agradece a participação de todos que estiveram nesse momento e já nos preparamos para o último encontro que será no Acre” – acrescentou Adriane Gama.
Rafael, Tamires e Lua são os três jovens estudantes selecionados pela Rede, os quais se integrarão aos 21 alunos de três estados da Amazônia Legal (Acre, Amazonas e Pará) na primeira turma da Escola de Redes Comunitárias da Amazônia. As aulas iniciam no mês de julho de 2022 a partir de conteúdos temáticos pensados coletivamente para fortalecer as redes envolvidas. “Foi uma honra pra mim representar minha escola. Essa oficina foi um conjunto de saberes, de conhecimento, cultura da qual a gente não tem muito acesso. Eu fui privilegiada de estar aqui. Um dos nossos sonhos é alfabetizar todos da ilha, aquelas pessoas que não tem acesso a escola” – ressaltou Tamires Gomes da Escola Bosque.