Colaboradores da Acosper e técnicos do Projeto Saúde e Alegria participaram de formação para uso e manutenção de equipamentos industriais usados no processamento de óleos em Santarém
Uma tonelada de andiroba, coletada na safra 2023 na região da Floresta Nacional do Tapajós por extrativistas, já aguarda o processamento inaugural da Agroindústria da Acosper, localizada na rodovia Santarém-Cuiabá. O beneficiamento da matéria prima será a estreia das operações do espaço, coordenado pela Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Oeste do Pará (ACOSPER) implantado com o apoio do Projeto Saúde e Alegria e recursos do Fundo Amazônia e outros parceiros.
Nesta terça-feira (20/02), colaboradores da Acosper acompanhados por técnicos do projeto Saúde e Alegria participaram da capacitação técnica com o consultor industrial William Lima. O especialista explicou a função de cada item do maquinário e o motivo pelo qual agiliza e potencializa a produção: “A vantagem dos equipamentos é que aumenta o regime de produção. A diferença de um óleo artesanal para o industrial se dá no processo de secagem. A andiroba que a gente vai tirar aqui vai ser mais límpida, com menos odor, mais clara. Continua com as propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e repelentes”, conta.
Para o processamento da andiroba, o produto passa por três etapas fundamentais. O processo de secagem é o primeiro, que dura dois dias e meio e passa por um secador rotativo aquecido por uma fornalha movida à lenha e cascas de andiroba com temperatura superior a 150º. “O secador de sementes é o primeiro equipamento do processo. A semente vem do extrativista úmida e a secagem tem que ser o mais rápida possível. Essa água no fruto hidrolisa e estraga o óleo porque aumenta a acidez”. Dentro da fábrica, as sementes aquecidas passam pelo processo de prensagem, para então, o óleo ser extraído.
A instalação, o processo e a manutenção dos equipamentos foram temas da capacitação técnica. Para o coordenador de Assistência Técnica Regular do Projeto Saúde e Alegria, Márcio Cunha, é um momento importante da estratégia que busca implementar a sequência da linha de produção. “Esses equipamentos vão num futuro próximo poder beneficiar o óleo de andiroba e manteiga de cupuaçu”, destaca.
Complexo da Acosper
O Ecocentro é um empreendimento estratégico da Acosper, idealizado com o objetivo de beneficiar os produtos da sociobiodiversidade. Ele consiste em duas estruturas físicas:
- Agroindústria – Galpão de Beneficiamento: Nesse espaço, os técnicos irão operar máquinas para processar óleo de andiroba, semente de cupuaçu e óleo de copaíba. Esses produtos são essenciais para a economia local e têm grande potencial de mercado.
- Casa do Mel de Abelhas sem Ferrão: Além dos óleos, o Ecocentro também abriga uma estrutura dedicada à produção de mel por abelhas sem ferrão. Essa iniciativa está alinhada com a estratégia dos cooperados da Acosper, proporcionando oportunidades para as famílias envolvidas.
Para o presidente da organização, Manoel Edvaldo, o espaço representa a oportunidade de fortalecer a geração de renda de populações que se dedicam ao extrativismo. “É um dos momentos mais esperados. Já temos produtos e as máquinas estão sendo instaladas. Para nós é um momento de felicidade porque os extrativistas estão mapeando as áreas produtivas com semente de andiroba e isso vai trazer um retorno muito grande para as comunidades da Flona Tapajós e Resex Tapajós”.
Com a participação da juventude e cadastro prévio de mais de trinta famílias do polo Tapajós-Arapiuns e Floresta Nacional do Tapajós, a previsão é de que a Agroindústria garanta escoamento da produção local. “O principal objetivo é a geração de renda. Nas comunidades e aldeias onde serão instalados os secadores de sementes, eles estão muito animados. O mercado já existe, está garantido”.
Além de manejar áreas nativas da floresta, os extrativistas e agricultores também estão plantando espécies não-madeireiras, promovendo o reflorestamento em áreas anteriormente desmatadas. A Engenheira Florestal Projeto Saúde e Alegria, Laura Lobato, ressalta que acompanhar todo o processo, desde a coleta ao envase do produto, contribui para o fomento da estratégia às comunidades: “Agora nós vamos acompanhar o produto como um todo e explicar para os coletores, com quem já atuamos no campo, desde a coleta ao beneficiamento”.
A previsão é que ainda neste primeiro trimestre de 2024, o espaço inicie as operações com a comercialização do produto aos consumidores.
“Estamos muito felizes com a realização de mais esse sonho, através do programa Floresta Ativa, apoiando desde lá na ponta, com a implantação de sistemas agroflorestais, redes de coletores de sementes, até a outra ponta, do processamento e comercialização em escala através do Ecocentro e Cooperativas. Vende-se direto, sem atravessadores, e com valor agregado, os óleos ao invés da semente em natura. E com a floresta em pé.” – comemora Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde e Alegria.