Produtores de pimenta do reino da comunidade Nova Vista do Arapiuns em Santarém, participaram no período de 06 a 10 de junho, de encontro na Resex Tapajós-Arapiuns e em Mojuí dos Campos. Compartilhamento da Experiência de Integração Agroflorestal contou com a participação Michinori Konagano
Um encontro na floresta possibilitou um rico debate sobre a importância do manejo e tratos culturais da pimenta do reino para mais de setenta produtores. Com o tema ‘Compartilhamento da Experiência de Integração Agroflorestal’, o palestrante Michinori Konagano, referência na produção em Tomé-Açu no Pará, destacou mecanismos para ampliar a produção, com a valorização da floresta em pé.
Produtor rural em Tomé Açú há 62 anos, Michinori Konagano, conquistou espaço no mercado e tem contribuído para a multiplicação da experiência: “A gente está trazendo e aqui eu percebi que tem potencial para frutifulticulta. O solo é perfeito e é bom para escoamento. Logisticamente está estruturada. Basta se organizar e produzir com qualidade” – avaliou durante o encontro.
A primeira etapa da capacitação foi realizada na própria comunidade, que recebeu estrutura do Programa Floresta Ativa do Projeto Saúde e Alegria com poço com sistema de energia solar para o bombeamento de água 24 horas por dia. “Recentemente a gente implantou um microssistema de água e um viveiro para que a gente possa melhorar os sistemas produtivos dessas famílias” – explicou o coordenador de assistência técnica do PSA, Márcio Santos.
Nova Vista do Arapiuns se destaca pelo cultivo de pimenta do reino na Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns. Nos últimos anos os cultivos foram prejudicados pela incidência de pragas e doenças. No encontro, os produtores foram estimulados a aplicar novas técnicas para o bom manejo da cultura: “A gente traz uma ferramenta nova, que é a contextualização de novos modelos de SAFs que possam permitir pra eles, melhoria de renda através da diversificação de cultivos entre as famílias assistidas pelo programa”, acrescentou Santos.
Trinta e oito (38) famílias sobrevivem da produção de pimenta do reino em Nova Vista do Arapiuns/Resex Tapajós Arapiuns. Na área produtiva, também cultivam espécies frutíferas regionais que abastecem as feiras em Santarém. Com a perspectiva de fortalecer o trabalho desenvolvido pelos comunitários e ampliar o potencial produtivo, o Floresta Ativa perfurou um poço profundo de 160 metros para irrigar as áreas. As famílias da comunidade que é considerada um grande polo produtor de pimenta do reino, realizam os plantios na Serra da Nova Vista – uma área de solo argiloso, propício para o plantio da espécie.
Para o produtor José Ednaldo Lopes, a estrutura viabilizada pela ONG com parceiros, é a realização de um sonho: “É uma luta nossa de vários anos. Agora nosso sonho está sendo realizado. A água vai servir não só pro nosso consumo, mas para irrigação e a gente só tem a agradecer” – comemora.
O Encontro da Pimenta do Reino destacou o manejo e tratos culturais de outros frutos, como cupuaçu, cacau e maracujá. Segundo o coordenador do Programa Floresta Ativa do PSA, Davide Pompermaier, é importante propor alternativas viáveis ao modelo do agronegócio, que contemplem floresta em pé e bem viver nas comunidades. “Um caminho que a gente entende que é importante fortalecer é a implantação de sistemas agroflorestais, imitar o jeito natural da floresta se reproduzir, trazendo produtos de valor comercial que agreguem valor para as famílias. É fundamental que o produtor não seja dependente de um único produto, um único mercado” – esclarece.
Durante o intercâmbio, produtores visitaram unidades produtivas de Mojuí dos Campos: cultivo de cumaru do produtor Minamoto Honda, de pimenta do reino do produtor Antonio Sabadini e área de fruticultura do produtor José Hagamenon Maia, onde conheceram novas práticas de produção de mudas, poda, manejo das culturas de pimenta do reino, cacau e cupuaçu.
O evento é uma realização do Projeto Saúde e Alegria e Acosper, com apoio da Konrad Adenauer Stiftung, Fundo Amazônia, Good Energies e parceria da Emater Pará, Embrapa e Ideflor-bio.
“São muitas coisas que a gente não sabia que estamos aprendendo na prática. Esse avanço vai ser uma melhoria pra todos os agricultores de Nova Vista” – destacou o produtor Rubenilson Pereira.
Água que irriga plantações e fortalece geração de renda comunitária
O Programa Floresta Ativa visa apoiar estratégias de valorização de cadeias produtivas da sociobiodiversidade, promovendo a economia dos povos da floresta. Por meio de ações estratégicas, as comunidades são fortalecidas para inclusão no mercado de produtos da sociobiodiversidade, com a adequada repartição de benefícios e a preservação da floresta.
O trabalho de assistência técnica desenvolvido pela equipe do PSA é focado na organização e no fortalecimento de associações e cooperativas. As cadeias produtivas que ganham destaque, por terem maior potencial na região oeste do Pará, são a meliponicultura, a produção de óleos e essências, coleta de amêndoas e sementes e a agricultura orgânica.
Através da parceria entre o PSA e Acosper, com apoio da Konrad Adenauer Stiftung, Fundo Amazônia, Good Energies, o sistema de água mudou a rotina na comunidade que desponta como produtora de pimenta do reino, mas que tinha sérios problemas com a irrigação. “A gente trazia água do rio até aqui nos plantios. Pra quem tem boi, trazia de carroça. Agora vamos ter um plantio desenvolvido” – comemora a presidente da associação Aspronitv (Associação de moradores e produtores rurais e pescadores de Nova Vista), Conceição Ferreira.
A estrutura ajuda a consolidar práticas inovadoras e sustentáveis de produção de matéria-prima e beneficiamento que, unidas aos saberes tradicionais, agregam valor aos produtos da atividade extrativista e agrícola das famílias, atendendo mais adequadamente as empresas com o potencial de comprá-los, pontuou o presidente Acosper, Manoel Edvaldo: “Uma delas foi a estrutura do sistema de abastecimento de água com poço, estrutura de caixa d’água, viveiro de mudas. Um dos objetivos planejados pela Ascosper com o PSA, foi a presença do Michinori Konagano que veio compartilhar seu conhecimento com os produtores”.
Além de acompanhamento técnico e assistência para potencializar as atividades desenvolvidas pelos produtores, o Floresta Ativa tem apoiado na construção de infraestrutura adequada. A Cooperativa Agroextrativista do Oeste do Pará (ACOSPER) é a entidade representativa dos cooperados no território e será a responsável por articular o escoamento da produção de pimenta, fruticulturas e culturas anuais. A partir de 2022, contará com o Ecocentro que reunirá itens das cadeias produtivas da sociobiodiversidade da região do Baixo Amazonas tais como óleos vegetais, mel de abelha, artesanatos, frutas e sementes. O espaço será referência de bioeconomia de base comunitária e geração de renda com a floresta em pé.
“É uma infraestrutura super importante. Infelizmente o poder público não consegue atender a demanda do saneamento básico com água de qualidade. É um projeto que traz grande qualidade de vida para as populações” – Fabiano Jucá, engenheiro florestal Emater Pará, Belterra.
“Essa estrutura que a ONG disponibilizou vai alavancar a comunidade. Vai ser uma unidade demonstrativa pra agricultura familiar dessa região para evitar a queimada da floresta, sem fogo, manejando capoeira, pra enriquecer com a fruticultura” – Michinori Konagano, Tomé Açú/Pará.
“Um sonho que vem muito de longe e que está se realizando para os moradores aqui da serra. Nós conseguimos um sonho que há muito tempo a gente vem tentando realizar. A partir de agora vamos recomeçar um novo ciclo de muito conhecimento” – Anselmo Correia, produtor de Nova Vista.