Vídeo Cartas Ubuntu: projeto desenvolve formação em audiovisual nos quilombos de Santarém

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Esta é a segunda edição do projeto, na primeira ,  oficinas foram realizadas em quatro aldeias indígenas. Nesta, adolescentes e jovens de quatro quilombos do planalto e da várzea estão recebendo oficinas de audiovisual. Resultados das oficinas são filmes dos gêneros: documentário, ficção e animação. 

O projeto Vídeo Cartas está na sua segunda edição e em 2022 a sua programação está voltada aos jovens e adolescentes quilombolas de Santarém. Foram contemplados quatro quilombos Murumuru e Bom Jardim na região do Planalto, Arapemã e Saracura na Várzea.

Cerca de 80 adolescentes e jovens entre 12 e 22 anos de idade participaram de oficinas de audiovisual com foco na produção de filmes de ficção, documentário e animação. As histórias contadas pelos  griôs e griotas (anciãos dos quilombos) inspiraram filmes criativos exibidos para toda a comunidade nos últimos dias da cada semana de oficinas nesses territórios.

“O que falar do projeto Vídeo Cartas, foi uma uma semana produtiva e até cansativa, mas conseguimos fazer o nosso papel e contribuir com tudo que foi feito. Eu me senti honrada em participar, e várias histórias do Arapemã me inspiraram, eu me encaixei perfeita no papel”, relata a estudante  Leidilza Silva, 22, do quilombo Arapemã.

Jovens e comunitários do quilombo Bom Jardim.

Na visão de Maria Caetana, presidente do quilombo do Murumuru, “foi um sentimento de gratidão, quando vem um evento desse pro nosso quilombo, a gente se sente grato por isso, porque isso que nós buscamos para os nossos adolescentes […] o audiovisual chama a atenção deles, já é a da vivência deles, eles tendo um celular já fazem essa prática. Então para eles completa o conhecimento”.

Contemplado pelo prêmio Preamar de Cultura da Secretaria de Estado de  Cultura (Secult/PA), o Vídeo Cartas Ubuntu é uma realização da produtora audiovisual M´bóia em parceria com a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), o Ponto de Cultura Kizomba e o Projeto Saúde e Alegria. Também conta com o apoio das associações e escolas municipais das localidades.

A primeira edição do projeto em 2021 foi desenvolvida com jovens e adolescentes de quatro aldeias do Baixo Tapajós: Akayu Asu, Caranã, Vista Alegre do Capixauã  na Resex Tapajós-Arapiuns e na aldeia Açaizal no planalto santareno. As produções podem ser acessadas no canal do Youtube do Vídeo Cartas:

https://www.youtube.com/@videocartastapajos8570

Sobre o Vídeo Cartas – O projeto surgiu com a proposta de difusão de oficinas de audiovisual para povos tradicionais e originários que têm pouco acesso aos meios de produção videográficos. Assim, o Vídeo Cartas – Ubuntu tem a intenção de promover atividades audiovisuais direcionadas, especialmente, às populações amazônicas, com eixos-temáticos que correspondam as realidades do povo daqui, no qual possa existir uma constante capacitação e protagonismo na apropriação dos conhecimentos compartilhados  do projeto e continuidade autônoma pelos jovens comunitários. Ao final de cada etapa, são disponibilizados kits de audiovisual (celulares, microfones, equipamentos e led e tripés) para serem utilizados em diversas atividades de comunicação comunitárias.

No primeiro dia das oficinas, os alunos de todos os quilombos participaram de uma palestra do antropólogo e artista plástico Anderson Pereira, com o tema “Marcos do Cinema Negro”. O contexto sobre o papel e espaços das pessoas negras no cinema mundial e brasileiro foi uma introdução para os jovens quilombolas se inspirarem a realizar filmes, desta vez, como protagonistas das suas narrativas. “Foi incrível trazer o conhecimento que eu adquiri e também aprender com eles essa nova forma de pensar e fazer cinema e enxergar cinema a partir do nosso olhar de ser amazônida, isso é muito importante, ler a nossa realidade sem a contaminação daquilo que foi nos ensinado a esquecer”.

A capacitação tem como base a teoria e a prática, no entanto, vai para além de uma formação, mas também como fomento para criação de coletivos de comunicação colaborativa em cada território. Dessa forma, o projeto oferece suporte de equipamentos e recursos pedagógicos para que os participantes possam se tornar multiplicadores. Na primeira edição, foi possível criar coletivos de comunicadores indígenas na aldeia Vista Alegre do Capixauã e Caranazal, o que resultou na elaboração diversos curtas e animações que foram exibidas na Mostra Ipê do CineAlter – Festival Latino Americano de Alter do Chão, em 2021, dedicada à filmes experimentais e de baixo custo.

“Vamos além de um projeto de audiovisual, ele afeta pontos importantes para a vida dos povos tradicionais, porque incentivamos os jovens e adolescentes a encontrar suas identidades, a valorizar a memória dos seus ancestrais, a destacar a singularidade das suas culturas, buscando na fonte, nos mais velhos, as histórias a serem contadas,, mas também tendo voz nessa narrativa audiovisual com um olhar próprio sobre suas realidades”, reflete Pedro Alcântara, antropólogo, produtor audiovisual e coordenador do projeto.

Desse modo, o Vídeo Cartas Ubuntu tem interesse, junto ao Coletivo Kizomba e a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS) em dar continuidade a esse processo de interação e sociabilidade por meio de vídeos nos quilombos, com o intuito de criar um ecossistema comunicativo entre aldeias e quilombos e fomentar a produção audiovisual na região do Baixo Tapajós.

Um pouco sobre a metodologia do projeto

Nesta segunda edição o projeto irá abordar nos quilombos os seguintes eixos temáticos:

– Memória e tradição;

– Manejo florestal;

– Economia sustentável;

– Mulher e conservação da terra;

– Saúde e tecnologias da floresta;

– Arte e juventude;

– Cultura popular e sociabilidades.

A educomunicação será o fio condutor como metodologia de trabalho, que desenvolve ações a partir das demandas e participação ativa dos comunitários, abordando a princípo os seguintes aspectos das tecnicas cinematograficas: Dispositivos e programas audiovisuais acessíveis; gramática audiovisual (sequência, tipos de planos, tomadas, movimentos de câmera, som e luz e etc) e produção e difusão. Os equipamentos usados na oficina serão celulares; programas de edição de celular, lousa, projetor e tela. As projeções serão usadas em momentos expositivos para referências audiovisuais, como também  exibição dos próprios filmes e das vídeo-cartas produzidas entre os próprios jovens.

A proposta do cronograma será uma imersão intensiva de uma semana em cada quilombo passando por quatro módulos em cada comunidade: 1) Compreensão das demandas e necessidades de cada comunidade; 2) Realização das oficinas; 3) Finalização dos produtos audiovisuais e difusão e 4)Exibição dos materiais nas comunidades contempladas.

** Release da II Edição Projeto Vídeo Cartas – Ubuntu | Israel Campos/Raphael Ribeiro

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