O Ranking do Saneamento do Instituto Trata Brasil divulgado na semana mundial da água evidenciou os piores indicadores do país. Santarém no Oeste do Pará ocupa a 98ª posição. Na contramão desses índices, iniciativas como a do Projeto Saúde e Alegria, busca inspirar modelos para melhorar esses índices e o acesso à água potável em territórios indígenas, quilombolas e ribeirinhos
Na lista do saneamento básico 2023, Santarém figura entre as três cidades com os piores indicadores na região norte. Ocupa a 98ª posição, o município que possui mais de 308 mil habitantes segundo o IBGE, consegue atender apenas 50,61% de seus moradores com água, segundo dados do Instituto Trata Brasil. No país, 32 milhões de cidadãos não têm acesso ao líquido.
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Iniciativas pontuais de organizações do terceiro setor tentam contribuir para diminuir esses indicadores. O Projeto Saúde e Alegria (PSA) atua na questão da água e do saneamento básico desde sua fundação, em 1987. Assim como em todos os seus programas, a implementação de sistemas de tratamento e abastecimento de água no oeste do Pará baseia-se em:
- Inovação tecnológica – sistemas híbridos, movidos a energia solar e a diesel, abastecem comunidades inteiras com custo acessível à população.
- Descentralização – no modelo desenvolvido pelo PSA, cada comunidade conta com seu próprio sistema de abastecimento e distribuição de água. O PSA mapeia as necessidades da comunidade e desenha o projeto sob medida para ela.
- Participação comunitária – os sistemas são implantados com a ajuda das próprias comunidades, que se mobilizam em mutirões. Juntamente com parceiros, o PSA adquire os materiais e equipamentos necessários e orienta os moradores durante a construção.
- Autogestão – durante a implantação, os moradores recebem capacitações e passam a conhecer o sistema a fundo, o que os torna aptos a geri-lo. Ao longo do processo de implantação, e com o apoio do PSA, cada comunidade cria seu regulamento de uso da água e elege democraticamente o comitê gestor, que administra a rede de maneira transparente e sustentável.
Até agora [entre 2018-2021], 1.239 tecnologias de acesso à água foram implementadas nos municípios de Santarém, Belterra e Itaituba, abrangendo territórios de várzea, Lago Grande, Resex Tapajós-Arapiuns, TI Maró, Flona Tapajós e TI Sawré Muybu. Nove poços foram perfurados entre 2019 e 2023 em Santarém, Belterra e Jacareacanga e a previsão é de que em 2024, 339 tecnologias do Programa Cisternas sejam iniciadas em 13 comunidades e aldeias da Resex Tapajós Arapiuns.
Para o tratamento de águas contaminadas, 835 Tecnologias foram distribuídas beneficiando mais de 16 mil pessoas de 3,1 famílias de comunidades de várzea, Arapiuns e aldeias Mundurukus e Kayapó no médio e alto Tapajós no período de 2023 a 2024. Os filtros incluem três principais tecnologias:
Filtros balde de nanotecnologia; Filtros de uso comunitário e Mochilas filtradoras.
A coordenadora do Programa de Infraestrutura Comunitária do PSA, Jussara Salgado, explica que as diferentes tecnologias se adequam às necessidades de cada território mapeado e que “os filtros são compostos de nanotecnologia, micromembranas que fazem a retenção de até 99,9% de vírus e bactérias, tornando a água potável e própria para consumo, e que quando “passa pelo filtro, se torna potável e pode ser ingerida, melhorando a qualidade de vida da população, diminuindo os índices de doenças de veiculação hídrica”.
Os filtros representam uma solução prática, eficaz e de baixo custo para tratar a água contaminada e associadas às outras tecnologias implementadas pela organização, como o próprio acesso à água, fortalecem o principio de dignidade aos povos da floresta. “O PSA, juntamente com outras organizações, vem construindo com entes públicos um mapa do caminho para fazer chegar água, energia e internet a esses um milhão de amazônidas povos da floresta excluídos. São tecnologias de ponta na ponta, de baixo custo e alto impacto social, investimentos que se pagam com a viabilização da telemedicina, conservação de vacinas, informatização das escolas, abastecimento de água, processamento de produtos agroflorestais, entre outros benefícios para o bem-viver”, finaliza Caetano Scannavino.