Instituições lançam campanha de prevenção a queimadas e incêndios florestais em comunidades de Santarém

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As ações da campanha ´Comunidade Unida, Preserva a Vida´ buscam sensibilizar comunitários sobre os cuidados para a utilização do fogo na agricultura – uma prática cultural antiga na região -,propõe roçado sem queima, além de orientar sobre o que fazer no caso do fogo sair do controle

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE  revelaram que os incêndios na Amazônia aumentaram 28% em julho em comparação ao ano passado. Foram identificados 6.803 incêndios na região em julho de 2020, em comparação com 5.318 no ano anterior. As imagens de  satélite apontaram que a maior floresta tropical do mundo pode ter novamente grande áreas devastadas por incêndios este ano, o que costuma ocorrer entre junho e outubro.

Além das queimadas ilegais para abertura de grandes áreas para pastagens, agricultura extensiva, mineração e grilagem de terras públicas, existem também os incêndios acidentais e, na zona rural, especialmente os advindos de práticas agrícolas que envolvem corte e queima para preparo da terra.

O foco da campanha “Comunidade Unida, Preserva a Vida” é na prevenção de incêndios florestais acidentais como decorrência da queima de áreas para o plantio de subsistência executado pelas populações tradicionais. Além de dar orientações sobre como fazê-la da forma mais segura e com autorização dos órgãos ambientais responsáveis, a campanha também orienta as medidas em caso de o fogo sair do controle e propõe práticas de roçado sem queima.

A campanha é fruto da união de órgãos públicos como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO e suas gestões na Floresta Nacional do Tapajós e Resex Tapajós-Arapiuns, a Defesa Civil do Pará em conjunto com o Corpo de Bombeiros – 4ºGBM, representações comunitárias como a Federação da Floresta Nacional do Tapajós, Organização da Resex – Tapajoara e organizações da sociedade civil como o Projeto Saúde e Alegria por meio de seu programa Floresta Ativa.

Como norte para as ações está a proposta do Plano Territorial de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, articulado em outubro de 2019, em que se planejou capacitação para novos brigadistas, oficinas de prevenção a incêndios florestais e apoio para aquisição de equipamentos para os combates.

O primeiro momento da campanha em 2020 foi a doação de equipamentos ao 4º Grupamento de Bombeiros Militares, sendo dois sopradores Stihl BR 600, roupas completas de combate a incêndio urbano, botas, luvas, balaclavas e capacetes. A doação visou melhorar as condições de trabalho dos bombeiros militares no combate às queimadas e incêndios, bem como o fortalecimento de ações preventivas por meio de cursos para formação de brigadas.

Nesta segunda etapa, serão distribuídos materiais impressos como folders e cartazes educativos com esclarecimentos sobre a Queima Controlada – os métodos para preparo do terreno para agricultura, horário correto para queima, posição do vento e mobilização da comunidade para ajudar controlar o fogo. Busca ainda orientar sobre o decreto federal 10.424/2020, que suspendeu a permissão para o emprego do fogo na Amazônia e Pantanal, mas permite para práticas agrícolas de subsistência, desde que informadas e autorizadas  junto a um órgão ambiental responsável.

Cartaz da Campanha ‘Comunidade Unida, Preserva a vida’. Baixe em pdf aqui.

Também serão veiculados programas de rádio e podcasts pelas redes sociais e WhatsApp com vinhetas e reportagens sobre a temática, voltadas para os comunitários de regiões rurais. Materiais educacionais ilustrativos para circulação nas redes sociais também fazem parte do projeto.

“A população da Resex tem o costume tradicional de fazer suas roças. Ninguém é proibido de fazer as roças até mesmo porque o nosso povo já faz isso há milhares de anos. A gente orienta a fazer aceiro no seu roçado, não tacar fogo nas margens de igarapés e igapós” – explicou o presidente da Tapajoara, Dinael Cardoso.

Como solução mais efetiva e de longo prazo, a campanha trabalha a conscientização do princípio da roça sem queima, que se mostra uma alternativa viável para limpeza das áreas de plantação, explica o engenheiro Florestal do PSA, Steve Mcqueen: “existem sim formas de trabalhar sem usar fogo. Uma dessas formas é uma técnica chamada roça sem queima que consiste em uma determinada área poder cortar a vegetação, sem amontoar e tocar fogo, mas sim cortar e deixar as partes mais grossas encostadas no chão e amiudar cada vez mais os galhos, ao ponto de deixar tudo bem cortadinho no chão. Nesse local é feito o plantio que o agricultor deseja. Nós incentivamos nas populações essa forma de plantar que é super vantajosa para pessoa e para o meio ambiente”.

O 4º Grupamento de Bombeiros Militares de Santarém está na linha de frente do combate dos incêndios na região. Segundo o subcomandante Major Piquet é importante considerar questões pontuais como a posição do vento, antes de atear o fogo para a limpeza da área: “é possível a gente prever que quando se trata de fogo no mato a pessoa inicia achando que é algo que é pontual que não vai causar dano nenhum. Contudo a mudança de vento, o ambiente favorável propicia queima de forma rápida, e o vento ajuda a pra que ela se alastre de forma violenta”.

Um suporte importante no combate aos incêndios é a participação dos Brigadistas Voluntários que educam sobre a prevenção ao fogo, ajudam na atuação coletiva da comunidade em caso de focos e colaboram no chamado de órgãos responsáveis: “São comunitários que se disponibilizaram a ajudar a comunidade a se organizar para realizar suas queimas mas também possível evento de combate a incêndio, são pessoas preparadas para atuar nesse combate. O brigadista voluntário da Resex tem o papel de organizar a comunidade para ajudar combater. Ele não tem a responsabilidade legal e moral de realizar sozinho, mas tem o conhecimento técnico de como organizar. Ele é uma pessoa central na comunidade que no caso de ocorrência de incêndio deve ser procurado para ajudar a comunidade a combater” – explicou Jaqueline Nobrega, do ICMbio.

Ouça a primeira reportagem da campanha:

 

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